Desvendando a Teia Tributária: Importar e Exportar Armas no Brasil
Por Demetrius Oliveira
Para entusiastas, colecionadores e profissionais do setor de armamentos, o Brasil apresenta um cenário complexo quando o assunto é importação e exportação de armas de fogo e seus componentes. Longe de ser uma tarefa simples, a movimentação desses itens através das fronteiras brasileiras envolve uma intrincada rede de impostos, taxas e regulamentações que exigem atenção meticulosa e conhecimento aprofundado.
Nos últimos anos, a política tributária para armas no país tem sido um verdadeiro campo minado de mudanças, refletindo as oscilações nas diretrizes governamentais e a sensibilidade do tema. Compreender essa dinâmica é crucial para evitar surpresas e garantir a conformidade legal.
A Importação: Um Labirinto de Impostos
Ao trazer uma arma para o Brasil, o importador se depara com uma série de tributos federais e estaduais. Os principais são o Imposto de Importação (II), o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o PIS/COFINS-Importação e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Imposto de Importação (II)
A alíquota do II para armas tem sido um ponto de grande volatilidade. Embora a Resolução CAMEX n.º 126, de 2020, tenha zerado a alíquota para revólveres e pistolas (NCM 9302.00.00.40), outras fontes indicam alíquotas de 18% a 20% para diferentes tipos de armas e componentes. Essa discrepância ressalta a necessidade de consulta constante à legislação vigente.
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)
Este é, talvez, o imposto que mais impactou o custo de importação recentemente. Em outubro de 2023, o IPI sobre armas de fogo e munições sofreu um aumento substancial, com alíquotas que podem chegar a 55% para revólveres, pistolas e certas munições (NCM 9302.00.00, 9306.29.00, 9306.90.90). Para outras categorias, como partes e acessórios, as alíquotas variam, podendo ser de 29,25% ou até 13% para alguns componentes específicos.
Continuação dos Impostos na Importação
PIS/COFINS-Importação
As contribuições para o PIS/Pasep e a COFINS incidentes sobre a importação geralmente somam 11,75% (2,1% para PIS e 9,65% para COFINS) sobre o valor do bem importado.
ICMS
De natureza estadual, o ICMS varia consideravelmente de um estado para outro. Para armas de fogo, as alíquotas tendem a ser elevadas, refletindo sua classificação como bens não essenciais. Em 2023, por exemplo, revólveres e pistolas podiam ter alíquotas de 37% no Rio de Janeiro e 25% em São Paulo.
A variação significativa nas alíquotas de ICMS entre estados brasileiros demonstra a importância do planejamento tributário na importação de armamentos.
Regime Simplificado vs. Regime Normal: Qual o Caminho?
O Brasil possui dois regimes principais de importação: o Regime de Tributação Simplificada (RTS) e o regime normal. O RTS é geralmente aplicado a remessas de menor valor, com uma alíquota única de 60% para bens entre US$ 50,01 e US$ 3.000,00.
Regime de Tributação Simplificada (RTS)
Aplicabilidade incerta e provavelmente muito restrita para armas de fogo, dada a natureza controlada e o alto valor desses itens.
Regime Normal
Caminho mais comum e detalhado para a importação de armamentos, com aplicação específica de cada imposto.

Embora haja menção de uma possível isenção de ICMS em São Paulo para armas importadas sob o RTS em condições muito específicas (como a ausência de contratação de câmbio), o regime normal é geralmente o mais indicado para este tipo de produto.
A Exportação: Um Cenário Menos Oneroso
No que tange ao Imposto de Exportação (IE) para armas e seus componentes, a boa notícia é que, para muitas NCMs, não há uma alíquota específica encontrada, ou o imposto pode ser zero em condições muito específicas.
Esta tabela demonstra que, em geral, a exportação de armas e componentes tende a ser menos tributada que a importação, embora ainda sujeita a controles rigorosos.
Além dos Impostos: A Burocracia Essencial
Independentemente do regime tributário, a importação de armas de fogo no Brasil é rigidamente controlada pelo Comando do Exército. A obtenção de licenças prévias é um requisito inegociável, e o processo pode ser demorado e complexo, exigindo a contratação de despachantes aduaneiros especializados.
01
Classificação Fiscal
A correta classificação fiscal (NCM) do item é crucial, pois dela dependem as alíquotas de impostos aplicadas.
02
Licenças Prévias
Obtenção de autorizações do Comando do Exército antes de iniciar o processo de importação.
03
Contratação de Especialistas
Despachantes aduaneiros com experiência em produtos controlados são essenciais para navegar o processo.
04
Pagamento de Tributos
Cálculo e recolhimento de todos os impostos aplicáveis conforme a legislação vigente.
A complexidade burocrática serve como um mecanismo adicional de controle, garantindo que apenas operadores legítimos e devidamente qualificados possam realizar estas operações.
Navegando o Cenário Tributário
A importação e exportação de armas no Brasil é um campo que exige não apenas capital, mas também um profundo conhecimento regulatório e tributário. As constantes mudanças na legislação, especialmente no que tange ao IPI e II, tornam imperativa a consulta a profissionais especializados em comércio exterior e direito tributário.
Além disso, manter-se atualizado com as normativas do Comando do Exército e da Receita Federal é fundamental para garantir que cada operação esteja em total conformidade com a lei.
Para o mercado de armas, a transparência e a precisão nas informações tributárias são a chave para um planejamento eficaz e para a sustentabilidade das operações.
Volatilidade das Alíquotas do Imposto de Importação
Um dos aspectos mais desafiadores na importação de armas para o Brasil é a volatilidade das alíquotas do Imposto de Importação (II). Esta instabilidade reflete as mudanças nas políticas governamentais e exige constante vigilância por parte dos importadores.
1
2020
Resolução CAMEX n.º 126 zerou a alíquota para revólveres e pistolas (NCM 9302.00.00.40)
2
2021-2022
Período de flutuações nas alíquotas para diferentes categorias de armas
3
2023
Fontes indicam alíquotas entre 18% e 20% para diversos tipos de armas e componentes

Esta discrepância nas alíquotas ressalta a necessidade de consulta constante à legislação vigente antes de iniciar qualquer processo de importação.
A variação nas alíquotas não apenas afeta o custo final do produto importado, mas também pode tornar inviável economicamente certas operações se não houver um planejamento tributário adequado.
O Impacto do IPI nas Importações
O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) tem sido um dos tributos com maior impacto no custo de importação de armas nos últimos anos. Em outubro de 2023, observou-se um aumento substancial nas alíquotas.
Este aumento significativo nas alíquotas do IPI demonstra como as políticas fiscais podem rapidamente alterar a viabilidade econômica da importação de armas e componentes, exigindo constante adaptação por parte dos importadores.
O IPI é, talvez, o imposto que mais impactou o custo de importação recentemente, com alíquotas que podem chegar a 55% para revólveres, pistolas e certas munições.
Considerações Finais sobre a Teia Tributária
Conhecimento Especializado
A importação e exportação de armas no Brasil exige não apenas capital, mas também um profundo conhecimento regulatório e tributário, tornando essencial a consulta a especialistas.
Atualização Constante
As constantes mudanças na legislação, especialmente no que tange ao IPI e II, exigem vigilância permanente e atualização sobre as normativas do Comando do Exército e da Receita Federal.
Planejamento Tributário
Para o mercado de armas, a transparência e a precisão nas informações tributárias são a chave para um planejamento eficaz e para a sustentabilidade das operações.
Desvendar a teia tributária da importação e exportação de armas no Brasil é um desafio contínuo que requer dedicação, conhecimento especializado e adaptabilidade. Apenas com estas ferramentas é possível navegar com segurança por este complexo cenário regulatório e fiscal.